sábado, 5 de maio de 2012

"Mãe, quero ser chef!"

Olá! Sei que estou ausente, perdoem-me! A vida tá frenética e tá complicado até sentar no computador, quanto mais mandar notebook pro conserto... Um dia eu vou ter um responsável por essa parte, ah, se vou!

Então, pros que não sabem, estou envolvida num projeto que caiu de pára-quedas em cima de mim e eu AMEI: eu, junto e sob a batuta de Cris Gonzales, do Café em Pauta, estou dando aulas de culinária para crianças no Iga - Instituto Gastronômico da Argentina (não me olhem torto, Iga se escreve assim mesmo, quando é sigla pronunciável é primeira maiúscula e o resto miníuscula). Estou amando participar desse projeto, estou amaaaaando trabalhar com a Cris, que hooooooonra e que sorte a minha! Tão feliz! =] Lá, a gente dá aulas pra aluninhos de 8 a 15 anos. E é inspirada neles que escrevo esse post. Neles e em tanta gente que curte esses lances de gastronomia e que tem, de alguma maneira, aquele fascínio pelo mundo das panelas, facas, tábuas, cebolinha milimetricamente cortada e vegetais estonteanetemente coloridos pulando pra cima e pra baixo na frigideira.

É mesmo encantador! Os cheiros, as cores, os barulhos! A cozinha é um paraíso, é um local mágico onde tudo, absolutamente tudo o que vc quer naquele momento, qualquer prato que vc imaginar, pode ser construído. Eu amo. É assim, ou a gente ama ou não. É diferente, pq se vc ama, vc aceita os defeitos e os lados chatos; se vc apenas gosta, não. Assim é com qualquer profissão: TODAS envolvem, em algum ponto do trajeto de construção da sua carreira, fazer coisas que a gente não gosta tanto. Médicos não gostam de virar noites necessariamente, jornalistas não adoram se arriscar em países em guerra, administradores não amam loucamente ficar horas preenchendo tabelas. Mas praqueles que amam o que fazem, isso é mero detalhe. Com quem trabalha em cozinha não é diferente. É gostando muito que a gente atura o cheiro de gordura, os cabelos constantemente presos, as unhas sem nada, os dedos sempre meio cortados, as mãos com calos de lavar.

Não é tudo o Mais Você, não é que nem o Masterchef Australia e, definitivamente, não é NADA que nem os programas da Nigella. Ana Maria Braga é apresentadora (do caramba, eu gosto dela! A essas alturas ela tem knowhow de chef teórico, com certeza, mas na prática, dificilmente ela se viraria aqui fora como chef de cozinha), o Masterchef é todo cronometrado e formatado e a Nigella, aaaah, doce Nigella, é uma cozinheira. A vida real tá mais pra Hell´s Kitchen, e quem dera fosse sempre por ter um chef monstro dando esporro: na imensa maioria das vezes vc tem que lidar é com o dono do estabelecimento dando bronca a cada gasto, tentando economizar em TUDO, ou com funcionário que aparentementente escuta WROARWRORAROWROA quando vc fala qualqueeeer coisa sobre higiene e não aprende nem por decreto, é garçom que falta, é pé doendo de ficar o dia inteiro em pé, é dedo cortado, mão queimada, bafo quente de forno na cara... Isso pra não falar dos horários. Em que dias vc, como consumidor, sai mais pra comer fora? Sábados, domingos, quinta e sexta à noite, né?? Então esses são os dias mais tumultuados, adeus soninho de sábado, adeus domingo com a família. Meninas, unhas no more. Éeeee, c já tinha pensado em tudo isso? Por isso, tem que amar o que se faz, qualquer que seja o que vc escolher pra fazer.

Não caia na ilusão glamourosa que o mundo da gastronomia pode te passar. A impressão que dá quando a gente liga a tv é que QUALQUER UM pode ser chef. É só pegar duas receitas e fazer um piloto pro Bem Simples e voilà, nasce um chef! E não é assim.

O campo pra um chef trabalhar hoje em dia é amplo, a Gastronomia tá empregando mais do que a construção civil. Olhe a quantidade de prédios sendo construídos e tenha uma pequena dimensão de como está. Se por um lado é ótimo, porque tem oportunidades por todos os lados, por outro é sinistro, pq você realmente tem que ser bom pra ter um mínimo de relevância que seja. Gente mole sai. Gente que não ama o que faz, simplesmente não aguenta. Gente fresca, dança. É muuuita gente no meio, muuuuita gente que tá fazendo isso há muito mais tempo que você e muuuita gente que conta com um talento absurdo mesmo sem nunca ter tocado num livro de Francês. Não é cem por cento necessário um diploma de chef, mas confesso que quanto mais o ramo da Gastronomia cresce, mais vejo que vai ficando imprescindível ter, além do diploma, um diferencial, um conhecimento técnico que não adianta, só um curso de Gastronomia vai te conferir. São muuuuuitas técnicas que nesses barzinhos chopp-com-batata-frita eles desconhecem, e que dão qualidade, identidade e credibilidade tanto ao estabelecimento quando às comidas. Um chef devidamente treinado comanda uma cozinha com destreza, é capaz de gerir e levar à frente um estabelecimento. Não adianta achar tudo lindo, abrir um restaurante, investir até as calças e não ter idéia de como maximizar a produção, controlar os estoques, contatar fornecedores, calcular preços de pratos ou apresentar um prato de forma que impressione. Vai acontecer com o seu a mesma coisa que acontece com mais da metade dos estabelecimentos que abrem no Brasil: fechar nos dois primeiros anos.


Daí chego aonde eu queria quando comecei a escrever o post. Minha filha é louca por gastronomia, adora uma cozinha, mas fico sem saber se é por influência direta minha ou dela, mesmo. Ela vai fazer seis anos. Esses dias, na televisão, alguém jogou um escalope numa frigideira quente e eu vi a Isabela vir correndo. "Aaaaaaaaah, eu adooooooro esse barulho!", disse. "Que barulho, filha?". "Esse, de coisas FEGORRANDO." - HAHAHAHAH, seis aninhooos! Coisas REFOGANDO, ela quis dizer...

Ela vai pra um curso de cozinha tão logo atinja a idade necessária. Pra essas crianças e adolescentes que estão tendo essa mega oportunidade de conhecer esse mundo numa cozinha super bacana, é uma chance de ouro. Porque permite que eles, se se reconhecerem como verdadeiros chefs, com paixão pela profissão, se programem pra uma carreira promissora desde agora. Nem todo mundo tem o privilégio de saber bem cedo o que se quer fazer, e nem toda profissão é tão acessível de se conhecer tão facilmente e tão a fundo como a gastronomia, pq ela está em todo lugar, e qualquer um pode participar, todo dia. Todo mundo come, não come? ;]

Se vc se descobre cedinho, tem tempo de sobra para planejar e fazer o que é o sonho de quase todo chef: uma viagem culinária! Com alguma qualificação, é possível viajar pros países-berço da alta gastronomia, como França, Italia, Espanha... Conhecer - quem sabe lavando pratos lá dentro? Imagina, que luxo!- os grandes restaurantes, os grandes chefs... Ter no seu curriculum seis meses de ajudante de cozinha na França, muitas vezes valem mais que anos de experiência em restaurantes aqui! Essas coisas a gente faz com muito mais facilidade enquanto é novinho, antes de casar, pagar contas e ficar preso na rotina do dia a dia de gente grande... Ou seja, quem sabe o que quer pode ir planejando desde agora o curriculum mais fenomenal que se possa imaginar, se divertindo e tirando muita onda no caminho. E contar com ajuda de gente que tá aqui pra isso. =]




Beijos!

Carol




sexta-feira, 6 de abril de 2012

Risotto de Shimeji e Champignon

Essa semana caíram no meu colo umas bandejas de champignon fresco orgânico, shimeji, moyashi ( broto de feijão e tb um de alfafa). Não podia vir mais a calhar! Semana santa e essa coisa de não comer carne - preciso urgentemente entender o motivo disso. Não sei, só sei que sigo. Só falto provurar comida kosher, na Páscoa.

Enfim, o broto de feijão nós comemos com um pene que eu fiz salteado com filé mignon, champignon, e shoyu, ficou muito bom e louco, não deu tempo nem de tirar foto.

E hoje foi o dia. OOOoOOoooo grande dia. O dia de fazer um belo risotto de cogumelos!!!


Legal pra substituir o velho bacalhau da Páscoa por algo mais prático, pra fazer um jantarzinho nessa sexta santa... Pq bacalhau é bom, mas que dá trabalho, dá.

Então, atenção pro mise en place - mise en place é separar tudinho que vc vai precisar, tudo bem bonitinho e arrumado na mesa, pia ou bancada. Confesso que na minha cozinha, eu nunca faço. Sei onde as coisas estão e me entendo bem e rapidamente com ela... Mas fiz uma foto pra ilustrar o que é o mise en place :


Várias coisas não estão na foto, mas deu pra entender, né?


Vc vai precisar de:

Uma bandejinha de champignon fresco
Uma bandeijinha de shimeji fresco
Duas cebolas médias
1 pimentão vermelho pequeno
1 e 1'2 copo de arroz arbóreo (que, no meu caso, justamente pq não fiz um mise en place decente, só vi que não tinha na hora, então usei o normal)
1 caixinha de creme de leite
Queijo parmesão 
shoyu
salsinha fresca
pimenta do reino
Manteiga
Azeite ev
Sal

Bora lá.

Primeira coisa:, pega uma panela, coloca água pra ferver (ou caldo, se vc também congela caldo de alguma carne ou legumes que faça em casa), ou, ainda, jogue uns dois cubos de caldo de legumes. Jogue dentro os talinhos da salsinha, uns dois ou tres dentes de alho esmagados com casca e tudo. Ao longo da preparação, jogue nessa água os talinhos do champignon, que são fibrosos, as pontinhas da cebola, do pimentão... Essa vai ser a água do risoto. Quanto mais gosto ela tiver, mais gosto o risoto vai ter.



      Pique a cebola bem picadinha, o pimentão tb.  Refogue na manteiga com azeite. Jogue os cogumelos picados. Refogue por breves instantes, os cogumelos devem permanecer al dente. Em seguida, retire só os cogumelos, sem limpar o óleo da frigideira, e reserve. Na frigideira ainda suja, refogue o arroz e vá adicionando, aos poucos, concha a concha, o caldo. Mexendo sempre, fogo baixo. Até vc sentir que o arroz tá cozido e al dente. Agregue um bom naco de manteiga, a seu gosto, acerte o sal, pimenta do reino, junte o creme de leite, os cogumelos, enfim, de volta, e rale um pedaço de parmesão de boa qualidade num ralo fino.












 Junte um bom punhado de salsinha bem picadinha e voilà!

Serve umas seis a oito pessoas. Lembre-se: risotos assim servimos em pequenas porções, pq tendem a ser enjoativos quando comidos em grandes qtidades!

Espero que gostem!


Ah! Essa cruz que as imagens fazem NÃO É PROPOSITAL, tá? por algum motivo, não consigo tirá-las dessa posição!

Quem quiser comentar e tiver dificuldades, tenta postar como anonimo com URL. Não precisa preencher o URL.

Bjocas!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Pra ter na Geladeira - Três Variações de Polenta!

Olá!

Um dos maiores desafios em planejar a alimentação da família é que a gente simplesmente não tem tempo. Pq é foda, é fácil dizer que tem que fazer comida caseira toda equilibrada e tal se você não trabalha ou tem ajuda; mas a verdade é que pras meras mortais - como eu! - é jornada dupla, tripla, quadrupla e muitas vezes não dá, a gente chega em casa VARADA de fome, as crias berrando, o marido chegando, a cozinha entulhada,  faxineira faltou, tem roupa na máquina... AAAAAAAAAAAAHHH!!! Quem nunca jogou tudo pro alto e pediu uma pizza ou apelou pra uns nuggets, atire a primeira pedra.


Legal, portanto, vc ter esqueminhas rápidos na geladeira, eles podem te facilitar a vida e muito. E eu não me refiro, ao contrário do que vc possa imaginar, a congelados industrializados ou pacotinhos desidratados, cheeeeios de sódio e açucar e sabe Deus o que mais colocam dentro.

Vc pode, por exemplo, fazer uma polenta dura e acondicionar direitinho num pote fechado por até uns quatro dias. Chegou em casa, tá com fome? Tira um pedaço, refoga uma calabresa e joga em cima, no outro dia , uns legumes cozidos em molho, no outro um ragu, ou quem sabe simplesmente uma fatia de queijo. um fio de azeite e um tempo de forno... Te garanto, minha querida, que a sua semana vai ser FELIZ e a familia agradece! Hahahahaha!

Eu fiz aqui em casa, nas últimas semanas, mais polentas do que jamais havia feito em minha vida. Em parte pq cismei que ia masterizar com louvor a polenta amarela e segundo... Bem, segundo pq eu ganhei de uma amiga dois kg de fubá organico delíciaaaaaa e me empolguei nele. Prontofaley.

De todas as versões de polenta, vou postar as tres que mais gostei. Uma foi feita com uma farinha de milho instantânea, e o restultado foi uma polenta mais rústica, de textura mais massuda e coloração mais forte - e a que eu mais gostei. As outras duas, com o fubá orgânico, uma foi normal e feita com uma parte de leite e manteiga e a outra foi temperada ainda na panela com bastante salsinha picada, ficou ótima. Aliás, as três ficaram ótimas. As fotos, por outro lado, ficaram sofríveis. Eu realmente tenho que comprar pratos novos, pq os meus simplesmente ACABARAM. Só sobraram 4 quadrados japoneses e uns marinex... Ai...

Bom, aí vão as fotos e receitas:


A básica de polenta menciona uma xícara de fubá e três de água. Pra ficar dura assim, eu coloco uma e um terço de xíc de fubá. Coloque pra hidratar um pouco, por uns vinte minutos, e depois ligue o fogo. GENTIL. Nem forte demais, nem fraco demais. Mexa, baby, mexa bastante... Se for instantâneo, assim que engrossar num ponto consistente, tá pronto. Vire num pote que seja fácil desenformar depois, deixe esfriar sem tampa, em seguida tampe e guarde na geladeira. Nessa receita eu não mencionei os temperos! Vou mostrar como temperei essas três abaixo:




POLENTA COM QUIABO REFOGADO
Fiz a polenta como manda o figurino, mas ao invés da água eu usei metade leite, fui pingando enquanto foi engrossando. Temperei com pimenta do reino branca, sal, azeite e manteiga (jogue uma colher de manteiga quando a polenta já estiver no ponto, desligue o fogo e mexa bem pra derreter e distribuir). O quiabo foi lavado e preparado. Piquei em brunoise cebola, alho, tomate concassé, e pimentão vermelho em brunoise também (brunoise é cortado bem pequenininho). Reduzi a molho, agreguei o quiabo, salteei até que ficasse macio e voilà! Eu AMO isso!


POLENTA TEMPERADA COM RAGU DE CARNE DE VACA
Essa polenta ficou fantástica. Fiz como manda o figurino de novo, mas usei a água que eu tinha usado para cozinhar uns legumes e no final agreguei uma boooooa mão de salsinha picadinha e um punhado de parmesão ralado na hora. Ficou muito boa. Para o ragu, usei cebola e pimentão picados, refoguei até murchar, acreguei a carne, uma lata de tomates pelados e aí está. 

 
POLENTA RÚSTICA COM CONCASSÉ DE CALABRESA E AGRIÃO

Essa foi a mais trabalhosa, mas de longe a que mais gostei. Ela foi feita com o fubá instantâneo, fica com uma textura mais grosseira, como falei antes. Usei, ao invés de água, um caldo riquíssimo de tutano que eu já havia preparado antes. Ficou muito, muito saborosa. Para o concassé de calabresa, descasquei as linguiças, piquei em cubinhos pequenos, refoguei na cebola, alho e dois tomates italianos sem pele e sem sementes. Azeite, pimenta do reino. Agrião. Ui.

Pois bem! E ainda daria pra fazer fritinha, ou com queijo derretido e presunto, com carne assada, com frango ensopado, com várias outras coisas. O único trabalho que vc tem nessa parte é tirar da geladeira, cortar o seu pedaço e esquentar, serve no microondas. E, se não tiver paciência nem pra fazer o acompanhamento, uma dica: desfie uma carne seca dentro da própria polenta, ou um pedacinho de bacon picadinho, frango desfiado ou a própria calabresa. Misture enquanto estiver quente. Pronto. problema resolvido!

Quem tiver mais receitas matadoras de polenta, mandem, ainda tenho meio saco pra gastar! Hahahahahah!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ainda Sobre Crianças e Comida - Os Seus FIlhos Comem Bem?

No último post eu recebi vários comentários legais pelo Facebook sobre a dica de fazer salada de frutas  com os filhos, fiquei toda boba! Aí, como alegria de pobre dura pouco, veio um comentário que apagou totalmente meu breve estado de graça, e na verdade eu nem entendi o motivo direito!

Elisa, querida, eu não quis criticar os pais, longe de mim! Quis, ao contrário, mostrar maneiras para que o dia-a-dia fique mais fácil para esses próprios pais. Pq criança que come sem precisar de adulto dando a comida no cantinho da boca, meio escondida, no revesgueio, pra criança não perceber o verdinho metido no meio do arroz com feijão, vamos combinar, é uma criança muuuito mais prática! E a idéia de adotar esse tipo de comportamento, de familiarizar o pequeno com as comidas das quais ele precisa, é essa, e gerar adultos que comem de tudo com equilíbrio e inteligencia.

 Lógico que tem quem não tenha tempo, eu muitas vezes não tenho! Mas que é uma experiência que vai fazer toda a diferença pra criança, é! E , se vc não tem tempo, pense que tem gente cujo trabalho é justamente passar um tempo ensinando às crianças dos outros! Tipo EU!!! hAHAHAHAHAHA!

Sério, Elisa, é muito legal quando eu consigo uma interação bacana com a criança. Pq eles adoram, é toda uma experiência sensorial pra eles! Eu costumo ministrar oficinas infantis em escolas, festas, colônia de férias... E se vc visse como a resposta das crianças é maravilhosa entenderia do que estou falando! Abaixo vão umas fotos da oficina de biscoitos da festinha de uma cliente chamada Ana Flor. Foram duas massas integrais, uma semi integral e uma colorida. As crianças moldaram, decoraram com passas, nozes, pedacinhos de chocolate e amaram! Sem um pingo de açucar desnecessário!


 







Viu como é bacana? As crianças, os pais e as mães brincando juntas e curtindo as obras dos pequenos... muito legal! No final os pais não resistiram e meteram a mão na massa! Hahahaha!



Enfim, agora sobre a pergunta: e seus filhos, eles comem bem? Não? O que comem melhor, o que não comem?

Eu tenho uma certa experiência com crianças. Não só porque realmente trabalho com isso, mas também porque minha avó, a melhor cozinheira que já conheci, me colocava pra cozinhar desde muito cedo. Morávamos numa cidade minúscula e nos dias de chuva, especialmente, não tinha nada pra fazer. Era o dia em que eu mais gostava de ir pra cozinha com ela. Ela fazia todo tipo de pratos, sendo os árabes os mais pedidos pela minha família, pq somos descendentes de árabe e não negamos, um quibe e um charuto nos deixa felizes como pintos no lixo.

Então, nos dias de chuva, especificamente, ela adorava fazer comidas molinhas e quentes, como um arroz fumegante e um ensopadinho de carne moída e milhares de vegetais, por exemplo, cenoura, chuchu, abobrinha, berinjela, brócolis, couve flor, vagem e o que mais aparecesse. E me lembro que, lá pelos seis anos, ela já me deixava subir num banquinho pra mexer a carne moída com ela. Me ensinava a provar os temperos, a hora certa de colocar cada coisa... E eu sempre devorei um prato enorme disso, independente de quantos vegetais houvesse ali.

Minha vó tinha uma teoria que ela não dizia pra todo mundo, só depois que comecei a trabalhar com gastronomia é que a ouvi confirmar pra mim: a teoria de que criança que não come é pq  os pais não sabem cozinhar pra crianças. E ela tinha regras pra isso, que eu sempre levei em conta na hora de cozinhar pros pequenos, nesses seis anos desde que fui mãe e comecei minha jornada alimentando pingos de gente.

A primeira regra dela, de que vou tratar nesse texto, é que criança gosta de verdura molinha, bem cozida. Na imensa maioria dos casos é verdade, eu presencio a cada oficina que isso é a mais pura verdade. Os adultos insistem em deixar as coisas al dente demais, e é uma textura que não agrada os pequenos.

Então, independente de se isso destrói parte dos nutrientes ou não, o importante é primeiro que a criança aceite bem, certo? De que adianta os nutrientes estarem intactos se a criança não aceita a comida? Vamos por partes.


Vamos fazer uma experiência? Segue receitinha que SEMPRE funciona com crianças aqui em casa.

Vc vai precisar de:

1 xíc de arroz cru
500gramas de patinho ou chã moída
3 dentes de alho inteiros e com casca
1 cebola média bem picadinha, bem pequena
3 tomates sem pele e sem sementes bem picadinhos
1 chuchu bem picadinho
2 dentes de alho bem picadinhos
uma colher de sopa de shoyu
manteiga e azeite

Essa receita, faremos o mais simples possível, sem adicionar verdinhos por enquanto. Se quiser testar com seu filho, faça, teste e venha contar depois!


Numa panela coloque a xícara de arroz cru. Adicione duas E MEIA de água quente. Acerte o sal. Jogue dentro os dentes de alho cortados ao meio com a casca. A casca, nesse caso, serve pra vc localizá-los depois e retirá-los, afinal, vc não quer um incidente diplomático com uma criança recebendo um alho no prato, né?  Acerte o sal e adicione um fio de azeite. Deixe cozinhar em fogo baixo até secar. A intenção é um arroz molinho e fumegante. Quando estiver pronto, tire o alho, amasse, que a essa altura ele estará molinho, e devolva pro arroz. Ele vai desaparecer na massa e vc temperará o arroz perfeitamente.

Numa panela, refogue a cebola picadinha em metade manteiga, metade azeite. Deixe ela refogar BEM, até quase desmanchar. Adicione o alho, refogue por uns dois minutos, em seguida a carne. Refogue por uns minutos, até ela estar cozida. Adicione a cenoura, o chuchu, o tomate,o shoyu e refogue, atenção, até o tomate desaparecer e se transformar em molho. Nesse ponto o chuchu e a cenoura estarão beeem molinhos. Acerte o tempero, deixe descansar por uns minutos e sirva.

Esse era o prato que me deixava mais feliz qdo criança... Hum...

Abaixo, uma versão update dele, mais sequinha e pedaçuda, pq aqui não tem problema: o arroz com açafrão, a carne com tomilho...
 Espero que gostem!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Salada de Frutas da Minichef Bebela! - Dicas pra Mães de Crianças que Não Comem

Eu sempre escuto as mães reclamando que os filhos não comem frutas. Graças a Deus, desse problema não sofro aqui em casa, Isabela não só come todas as frutas como quase todo dia as exige no café da manhã. Banana, maçã ou mamão com iogurte, granola ou aveia e mel. Só fica satisfeita assim.

Mas, voltando às crianças mais difíceis, eu costumo dizer que quase sempre - QUASE, nem sempre, tem criança que não come pq não come e ponto final - há uma maneira não muito eficiente de os pais lidarem com comida que não favorece que os filhos tenham uma boa relação com coisas saudáveis, como frutas, verduras e legumes. 

Trocando em miúdos, a coisa é bem simples: não adianta querer que os pequenos comam alface se os pais não suportam verdinhos, não adianta pedir que comam frutas se eles não vêem os pais comendo, ou que tomem sopas ou sucos se estes não são o hábito da casa.

Há, hoje, toda uma falsa facilidade que os pais acabam comprando por falta de tempo, crendo fazer o melhor, e que simplesmente não é. Comprar, por exemplo, sucos de caixinha pra que as crianças pelo menos tomem as vitaminas que comeriam nas frutas. Gente, suco de caixinha não é fruta, SUCO por si só não é fruta. A fruta inteira, in natura, não só é muito diferente em sua textura e gosto quando comparada aos sucos prontos como oferece coisas que o suco não pode oferecer: as fibras, o mastigar, a familiaridade com as texturas diferentes que cada fruta tem. Sem contar que os sucos concentram um teor muito maior de açucares (e, no caso de caixinha, conservantes, corantes e etc) do que as frutas. Leve-se em conta que vão duas, três laranjas pra cada copo de suco, e que no copo não vai o bagaço, que no fim das contas é excelente pra fazer o intestino funcionar, por exemplo.

O suco facilita a coisa toda pros pais, é verdade, mas também para o CORPO. E a idéia não é essa. A fruta inteira tem uma razão de ser. Não é que não devamos tomar suco, mas é que a experiência com a fruta in natura é fundamental para que construamos uma familiaridade com ela, e é isso que os pais práticos colocam a perder ao optar pela facilidade da coisa. E também não é que não devamos nunca dar suco de caixinha, ele salva a gente em horas que só a gente sabe! É só que é FUNDAMENTAL, se você quer que seu filho se alimente direito, que você  o apresente devidamente às frutas, aos legumes e às verduras. E às outras comidas também.

E diferentemente do que parece, esse "apresentar" não é apresentar quando vc introduz as papinhas, lá pelos seis meses de idade. Isso não é suficiente. Há que apresentar e reapresentar inúmeras e repetidas vezes, de novo e de novo, durante toda a infância, se você realmente quiser que seu filho tenha algum tipo de "relação" com os alimentos, algum carinho por eles. Porque, vamos combinar, fica muuuuuito difícil desenvolver carinho por cenouras, brócolis e couve quando você, quando criança, é mais exposto a Sucrilhos, Nescau e Trakinas do que aos próprios vegetais. Quer ver um exemplo legal? Ninguém, e por ninguém eu quero dizer NINGUÉM MESMOOOO, nenhuma criança se apaixona por Coca Cola de primeira. Ela toma duas, três, cinco vezes - na maioria das vezes por insistência dos próprios pais - até que, uma hora, ela começa a pedir sozinha. Com vegetais e comidas saudáveis o trabalho é um pouco mais árduo, porque eles não têm todos os aditivos que as porcarias têm, e que são justamente pensados e utilizados pra fazer as papilas gustativas ficarem idiotas e viciadas neles. O sabor dos vegetais é limpo, é puro, mas é o real deal.

Então tem que oferecer uma, duas, dez vezes. Tem que colocar todo dia no prato, ainda que não comam, tem que colocar todo dia no SEU prato, ainda que vocês não comam, mamãe e papai. Uma hora, você vai ver, tanto você quanto o pimpolho vão provar e a cada dia comer um pedacinho mais, a cada dia saber melhor como preparar pra ficar mais gostoso... é trabalhoso, mas não se preocupe, DÁ CERTO.

Uma coisa que sempre digo aos pais quando faço oficinas com crianças em festas e escolas é: ABRAM A COZINHA PARA SEUS FILHOS. Deixem, uma vez ou outra, que eles participem em pequenas tarefas, tarefas que não ofereçam risco, como cortar bananas, lavar alface, cortar mamão e frutas macias, misturar molhos e massas... Eles gostam e se sentem úteis e, mais importante do que tudo isso, se familiarizam e aprendem a aceitar os sabores com mais facilidade.

Geralmente depois das oficinas eu tenho um feedback interessante de pais me contando que os filhos estão comendo cebola, salsinha, que já sabem o que é coentro, o que é hortelã... Eu ensino tudo isso durante as aulas, e os faço provar. Provar cru, provar cozido, provar frito, provar com sal, provar sem sal... É parte fundamental do meu trabalho como profissional e também como mãe.

Minha filha é apaixonada por coisas naturais. Também gosta de porcarias, claro, mas é louca por verdurinhas, leguminhos e frutas, pq ela sabe que fazem bem, sabe que gosto têm, ela mesma me sugere as preparações e vira e mexe quer ajudar. Não é todo dia que eu deixo, mas pelo menos umas duas vezes por semana escolho um jantar mais fácil de fazer, justamente pra eu poder contar com a "ajudinha" dela. E ela ajuda meio que atrapalhando, às vezes, mas se diverte.

Ontem fizemos salada de frutas.

Cortando mamão

   Maçã


                                                                          Manga e uva


     Abacaxi, banana, melão


             No final, como não tinha suco de laranja, colocamos um suquinho de goiaba e aí está a salada de frutas inteiramente feita pela pimpolha!


Viu que dá? Tenta!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Crítica - LA MOLE

Pra quem gosta de comer em restaurantes isso é de utilidade publica: ontem o Plaza tava tão cheio que acabamos no La Mole. Fazia tempo que eu não ia, mas me lembrava de porções generosas, preços acessíveis e comida mediana. Como estávamos VERDES de fome, fomos assim mesmo, pq os outros restaurantes estavam lotados. Pedimos um medalhão com arroz a piamontese e um prato infantil pra minha filha de 5 anos, com tirinhas de filet mignon, pure de batatas, caldo de feijão e fusili. Quando chegou o prato dela, me assustei: nunca vi apresentação pior na vida, o prato estava todo sujo, as tirinhas NÃO ERAM DE FILET nem aqui e nem na China, aquilo era, no máximo, contra filet limpo ou alcatra; o macarrão sem sal nenhum, desmanchando e SUJO, como se fosse macarrão usado (e só uso o "como se fosse" pq não posso afirmar categoricamente sob pena de levar processo por calúnia, pq eu, como chef de cozinha, tive a nítida impressão de que tanto a carne como o pure de batatas - que era a única coisa saborosa, embora frio e mal disposto no prato - eram reaproveitados), o pure de batatas disposto todo bagunçado como se fosse composto de sobras, nem homogeineizado o pobre foi.

Quando chegou nosso pedido, o arroz a piamontese, parboilizado, era um arroz com manteiga, água e uns pedacinhos de mussarela, de piamontes, NADA. Os pratos SUJOS, a batata portuguesa velha... Enfim, um pesadelo. O pior de tudo foi que pedimos pra tocar e, apesar de não ter melhorado nada, comemos do mesmo jeito, pq a fome tava brabíssima, e passamos mal depois a tarde toda. 

Por causa do meu trabalho eu sei que sou uma cliente difícil determinadas vezes, mas garanto que sou tão tolerante quanto qualquer cliente consegue ser. Ontem, saí do sério FEIO. Raramente isso acontece.

Chamei o gerente, me apresentei, expliquei que aquilo era uma afronta com qualquer cliente, ainda pior pelo preço que cobram, apresentar arroz com água como se fosse a piamontese, medalhões desiguais ( erro de proporção pra MUITO, não pra alguns graminhas, não, era papo de um medalhão ser TRES VEZES maior que o outro, e eram só esses dois), tudo sem o MENOR tempero, sem o MENOR capricho, nos pratos imundos.... E ele só me perguntava: "mas tava tão ruim assim, mesmo?"

Na hora da conta, nenhum desconto, nada. Chamei de novo, me apresentei, expliquei, a resposta foi "é, minha senhora, errar, todo mundo erra, né?".

Meu ponto de vista: eu sei e todo mundo sabe que o La Mole caiu MUITO durante os últimos anos, trocando inclusive de público-alvo. Mas uma coisa é certa, não importa onde é seu restaurante e nem pra quem vc vai servir, se serão bilionários ou trabalhadores que ganham um salário mínimo, o RESPEITO COM O CLIENTE deve ser o mesmo. Ele está ali pagando por uma experiencia toda especial e MERECE uma comida bem feita, um prato bem executado, um atendimento agradável. Ontem eu não tive nada disso. Se eu tivesse ido ao trailer de caldos do tio coisinho no Bay Market, teria saído muito mais satisfeita - o cara serve angu a baiana, mas certamente o tempera com maestria, serve em recipientes limpos, capricha na hora de colocar no prato pra não sujar em volta e não usa restos de angu de um cliente pro prato de outro.

É certo que o gerente de ontem não sabia absolutamente nada sobre fidelização de cliente e pós venda; mas o mínimo que o senso comum me levaria a fazer, se estivesse no lugar dele, seria conceder um desconto pela experiencia sofrível que tivemos. Coitado, me ofereceu com insistencia um espresso, que eu recusei com educação. A conta veio intacta, aproximadamente oitenta reais, com ERRO PRA MAIS.

Depois de um semi escandalo, recebemos um GENEROSO desconto de SEIS reais. Oh, God.

E tudo que o gerente me repetia era que errar todo mundo erra... Então eu lhe disse que eu, quando erro, faço questão de não cobrar ou de repor a mercadoria e de CORRIGIR imediatamente pelo que é CORRETO. Assim como em QUALQUER outro trabalho. E que ele, como gerente, PROVE os pratos todos os dias, entre na cozinha e PROVE tudo, pq ELE é quem tem que saber, já que, pelo visto, o chef não faz a lição de casa dele.

Enfim... Fica aqui minha experiencia pros foodies niteroienses.


Acho legal divulgar esse tipo de coisa, vamos ver se o restaurante acorda, né?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Comidinha Colorida

Depois de passarmos o dia na piscina do clube, minha pequena, os amigos, eu, as amigas mães, na confraternização de fim de ano da turminha do colégio. Tudo de bom, cada um levou uma coisa, no fim das contas passamos o dia comendo tranqueira!

Isabela, como não podia deixar de ser, assim que chegamos em casa me intimou a fazer "comida de verdade". Ela é daquele tipo que enquanto não senta e faz uma refeição direita, não sossega, fica p da vida pq diz que não comeu.

Heheheh.

Fui pra cozinha, saiu isso:



Arroz feito com açafrão e um quase ragu emiliano com alho poró, cenourinhas, palmito na finalização e tomilho da minha horta!
Por falar nisso, minha cebolinha deu alguma praga, tá feia, horrorosa, terei que abater.

Mas o manjericão crespo, o tomilho, o estragão, o alecrim, pimenta, salsa e salvia estão crescendo beeeemmmm! Já uso em tudo!


Enfim, uma comidinha delicia pra fechar um dia quando a criança não comeu nada que prestasse o dia todo e precisa de "sustança".

Por nada que prestasse quero dizer nada de saudável, pq o que tinha de pecados naquela mesa hoje, affff... Não consigo nem respirar neste momento! Hahahahah!