Olá! Sei que estou ausente, perdoem-me! A vida tá frenética e tá complicado até sentar no computador, quanto mais mandar notebook pro conserto... Um dia eu vou ter um responsável por essa parte, ah, se vou!
Então, pros que não sabem, estou envolvida num projeto que caiu de pára-quedas em cima de mim e eu AMEI: eu, junto e sob a batuta de Cris Gonzales, do Café em Pauta, estou dando aulas de culinária para crianças no Iga - Instituto Gastronômico da Argentina (não me olhem torto, Iga se escreve assim mesmo, quando é sigla pronunciável é primeira maiúscula e o resto miníuscula). Estou amando participar desse projeto, estou amaaaaando trabalhar com a Cris, que hooooooonra e que sorte a minha! Tão feliz! =] Lá, a gente dá aulas pra aluninhos de 8 a 15 anos. E é inspirada neles que escrevo esse post. Neles e em tanta gente que curte esses lances de gastronomia e que tem, de alguma maneira, aquele fascínio pelo mundo das panelas, facas, tábuas, cebolinha milimetricamente cortada e vegetais estonteanetemente coloridos pulando pra cima e pra baixo na frigideira.
É mesmo encantador! Os cheiros, as cores, os barulhos! A cozinha é um paraíso, é um local mágico onde tudo, absolutamente tudo o que vc quer naquele momento, qualquer prato que vc imaginar, pode ser construído. Eu amo. É assim, ou a gente ama ou não. É diferente, pq se vc ama, vc aceita os defeitos e os lados chatos; se vc apenas gosta, não. Assim é com qualquer profissão: TODAS envolvem, em algum ponto do trajeto de construção da sua carreira, fazer coisas que a gente não gosta tanto. Médicos não gostam de virar noites necessariamente, jornalistas não adoram se arriscar em países em guerra, administradores não amam loucamente ficar horas preenchendo tabelas. Mas praqueles que amam o que fazem, isso é mero detalhe. Com quem trabalha em cozinha não é diferente. É gostando muito que a gente atura o cheiro de gordura, os cabelos constantemente presos, as unhas sem nada, os dedos sempre meio cortados, as mãos com calos de lavar.
Não é tudo o Mais Você, não é que nem o Masterchef Australia e, definitivamente, não é NADA que nem os programas da Nigella. Ana Maria Braga é apresentadora (do caramba, eu gosto dela! A essas alturas ela tem knowhow de chef teórico, com certeza, mas na prática, dificilmente ela se viraria aqui fora como chef de cozinha), o Masterchef é todo cronometrado e formatado e a Nigella, aaaah, doce Nigella, é uma cozinheira. A vida real tá mais pra Hell´s Kitchen, e quem dera fosse sempre por ter um chef monstro dando esporro: na imensa maioria das vezes vc tem que lidar é com o dono do estabelecimento dando bronca a cada gasto, tentando economizar em TUDO, ou com funcionário que aparentementente escuta WROARWRORAROWROA quando vc fala qualqueeeer coisa sobre higiene e não aprende nem por decreto, é garçom que falta, é pé doendo de ficar o dia inteiro em pé, é dedo cortado, mão queimada, bafo quente de forno na cara... Isso pra não falar dos horários. Em que dias vc, como consumidor, sai mais pra comer fora? Sábados, domingos, quinta e sexta à noite, né?? Então esses são os dias mais tumultuados, adeus soninho de sábado, adeus domingo com a família. Meninas, unhas no more. Éeeee, c já tinha pensado em tudo isso? Por isso, tem que amar o que se faz, qualquer que seja o que vc escolher pra fazer.
Não caia na ilusão glamourosa que o mundo da gastronomia pode te passar. A impressão que dá quando a gente liga a tv é que QUALQUER UM pode ser chef. É só pegar duas receitas e fazer um piloto pro Bem Simples e voilà, nasce um chef! E não é assim.
O campo pra um chef trabalhar hoje em dia é amplo, a Gastronomia tá empregando mais do que a construção civil. Olhe a quantidade de prédios sendo construídos e tenha uma pequena dimensão de como está. Se por um lado é ótimo, porque tem oportunidades por todos os lados, por outro é sinistro, pq você realmente tem que ser bom pra ter um mínimo de relevância que seja. Gente mole sai. Gente que não ama o que faz, simplesmente não aguenta. Gente fresca, dança. É muuuita gente no meio, muuuuita gente que tá fazendo isso há muito mais tempo que você e muuuita gente que conta com um talento absurdo mesmo sem nunca ter tocado num livro de Francês. Não é cem por cento necessário um diploma de chef, mas confesso que quanto mais o ramo da Gastronomia cresce, mais vejo que vai ficando imprescindível ter, além do diploma, um diferencial, um conhecimento técnico que não adianta, só um curso de Gastronomia vai te conferir. São muuuuuitas técnicas que nesses barzinhos chopp-com-batata-frita eles desconhecem, e que dão qualidade, identidade e credibilidade tanto ao estabelecimento quando às comidas. Um chef devidamente treinado comanda uma cozinha com destreza, é capaz de gerir e levar à frente um estabelecimento. Não adianta achar tudo lindo, abrir um restaurante, investir até as calças e não ter idéia de como maximizar a produção, controlar os estoques, contatar fornecedores, calcular preços de pratos ou apresentar um prato de forma que impressione. Vai acontecer com o seu a mesma coisa que acontece com mais da metade dos estabelecimentos que abrem no Brasil: fechar nos dois primeiros anos.
Daí chego aonde eu queria quando comecei a escrever o post. Minha filha é louca por gastronomia, adora uma cozinha, mas fico sem saber se é por influência direta minha ou dela, mesmo. Ela vai fazer seis anos. Esses dias, na televisão, alguém jogou um escalope numa frigideira quente e eu vi a Isabela vir correndo. "Aaaaaaaaah, eu adooooooro esse barulho!", disse. "Que barulho, filha?". "Esse, de coisas FEGORRANDO." - HAHAHAHAH, seis aninhooos! Coisas REFOGANDO, ela quis dizer...
Ela vai pra um curso de cozinha tão logo atinja a idade necessária. Pra essas crianças e adolescentes que estão tendo essa mega oportunidade de conhecer esse mundo numa cozinha super bacana, é uma chance de ouro. Porque permite que eles, se se reconhecerem como verdadeiros chefs, com paixão pela profissão, se programem pra uma carreira promissora desde agora. Nem todo mundo tem o privilégio de saber bem cedo o que se quer fazer, e nem toda profissão é tão acessível de se conhecer tão facilmente e tão a fundo como a gastronomia, pq ela está em todo lugar, e qualquer um pode participar, todo dia. Todo mundo come, não come? ;]
Se vc se descobre cedinho, tem tempo de sobra para planejar e fazer o que é o sonho de quase todo chef: uma viagem culinária! Com alguma qualificação, é possível viajar pros países-berço da alta gastronomia, como França, Italia, Espanha... Conhecer - quem sabe lavando pratos lá dentro? Imagina, que luxo!- os grandes restaurantes, os grandes chefs... Ter no seu curriculum seis meses de ajudante de cozinha na França, muitas vezes valem mais que anos de experiência em restaurantes aqui! Essas coisas a gente faz com muito mais facilidade enquanto é novinho, antes de casar, pagar contas e ficar preso na rotina do dia a dia de gente grande... Ou seja, quem sabe o que quer pode ir planejando desde agora o curriculum mais fenomenal que se possa imaginar, se divertindo e tirando muita onda no caminho. E contar com ajuda de gente que tá aqui pra isso. =]
Beijos!
Carol